Passei pelo final dos anos 90 assistindo de camarote a todas aquelas meninas que experimentavam o lesbianismo de sábado à noite. Era moda, naquele tempo, beijar outras meninas nas festas de música eletrônica, se você fazia parte da ridícula (no sentido de mínima) cultura clubber que engatinhava no Rio de Janeiro. Bem, eu era uma ridícula (no sentido de patética) clubber carioca, se é que cabe rotular aqui, e posso dizer que, de todas aquelas experimentações de sábado, eu fui a única que beijou uma menina só uma vez - e achei ruim, diga-se de passagem. Sabe como é, faltou a barbinha por fazer e aquele jeito mais agressivo masculino. Enfim, faltou a virilidade. E, mesmo depois da experiência, eu passei por algum tipo de preconceito às avessas: as pessoas me olhavam torto porque eu era uma das poucas que não "fazia" garotas. Fui imediata e irrevogavelmente tachada de careta.
Os anos passam e a caravana continua, e essa história de lésbica de vez em quando ficou pra trás. Até que eu encontrei uma amiga de uns 30 e poucos que, às vésperas de fazer aniversário, disse que o importante na festa dela é que aparecessem pessoas solteiras. Porque na nossa idade todo mundo está casado ou recém-divorciado, pronto pra cair na gandaia da reconquistada vida de solteiro. No meu círculo social são poucos os amigos que deixaram a vida de adolescente pra trás e resolveram se casar. Separados, então, esses nem existem. Mas aí eu fiquei quieta, porque essa história de pós adolescente anda me envergonhando. E a minha amiga continuou a falar sobre os solteiros que deveriam aparecer na festa dela:
- Homens hétero de 30 a 50 anos
- Preferência por homens na faixa dos 38 sem filhos
- Gays que de vez em quando fiquem com garotas aqui e ali
- Mulheres dispostas a experimentações
E aí, quando ela disse isso, todo mundo riu. E alguém falou: "Mulher tem essa vantagem, pode ir e voltar. Já com o homem, se escolhido esse caminho, não volta mais". E todo mundo riu de novo, e eu fiquei tempos depois pensando que mulheres de 30 e poucos experimentam outras mulheres e podem até namorar e são muito bem resolvidas com isso. Achei curioso, porque namorar uma menina nunca foi uma opção pra mim. Meu namorado mesmo diz que eu sou a mulher mais hétero que ele conhece - e isso porque ele compartilha a opinião lamentável de que toda mulher tem um quê de lésbica. Mas quem sabe, vai ver é verdade mesmo. Nossa, seria a redenção das fantasias masculinas. E é interessante saber que as pessoas têm mais essa possibilidade. É tão... libertador.
Pena que não é da minha praia. Ainda. Vai saber, né.